quinta-feira, 26 de abril de 2012

Linguagem simbólica usada com autistas pode ajudar crianças com atrasos na fala



A linguagem simbólica usada para comunicar com autistas pode ajudar crianças com atrasos na comunicação oral, disse à Lusa a coordenadora do Centro de Recursos para a Inclusão Digital (CRID) do Instituto Politécnico de Leiria (IPL).
"A população em geral pensa que a Comunicação Aumentativa está associada a deficiências graves e que até pode atrasar o desenvolvimento da fala, mas isso não é verdade", defendeu Célia Sousa.

O IPL e a Direção regional de Educação do Centro apresentaram uma brochura sobre "Comunicação Aumentativa", que visa dar a conhecer às escolas, estabelecimentos de saúde, autarquias, associações e público em geral este tipo de linguagem, "procurando desmistificar algumas ideias sobre esta linguagem junto da população e até de profissionais", sustenta Célia Sousa.

A coordenadora do CRID do IPL sublinha que inclusive "nas escolas de terapia da fala existe alguma desvalorização desta forma de comunicar", pelo que a brochura, que será distribuída gratuitamente na zona centro do país (Coimbra, Aveiro, Guarda, Viseu, Castelo Branco, Leiria e Pombal), pretende ajudar a "quebrar alguns mitos".

"Quem tiver um filho com dois ou três anos pode habituá-lo a usar esta linguagem e ele pode ajudar a fazer as compras", explica Célia Sousa.

A especialista salienta que estas ações são importantes "até porque todos já ouviram falar do Braille ou da Língua Gestual Portuguesa, mas muitos desconhecem a Comunicação Aumentativa".

Esta utiliza sistemas de comunicação através de símbolos gráficos - baseados em desenhos, com maior ou menor estruturação e com diferentes níveis de simbolismo, acompanhados pela palavra escrita. Neste grupo encontram-se os sistemas pictográficos, constituídos essencialmente por desenhos esquemáticos, com uma grande semelhança com aquilo que representam.

Descoberto método para ajudar alunos a ler e escrever



Uma investigadora do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA) descobriu algumas fórmulas simples que, ao serem usadas na sala de aula, podem ajudar os alunos com mais dificuldades a aprender a ler e escrever.

A docente universitária Ana Cristina Silva coordenou três investigações com alunos, com dificuldades económico-sociais, que frequentavam o primeiro, segundo e quarto anos de escolaridade.
"A aprendizagem é um processo complexo e temos muitas crianças que enfrentam o insucesso escolar logo no primeiro ciclo. Não nos podemos esquecer que existem crianças que não são acompanhadas em casa pela família e que vão ficando para trás. No entanto, desenvolvemos três estudos de intervenção cientificamente fundamentados que podem prevenir as dificuldades de aprendizagem que vão surgindo", contou à Lusa a professora.
Uma das investigações centrou-se num grupo de meninos, sinalizados como tendo falhas na aprendizagem, a quem foi pedido que descobrissem sozinhos algumas regras ortográficas através da apresentação de grupos de palavras.
Por princípio, num sistema de escrita de base alfabética cada letra deveria representar um som. No entanto, no português, essa regularidade encontra-se poucas vezes. Por exemplo, as letras "m" e do "n" podem ler-se da mesma maneira (como em "campo" e "canto") e para quem está a aprender esta pode ser uma regra difícil de perceber.
Os investigadores davam às crianças grupos de palavras e pediam-lhes que descobrissem as parecenças. No final, quando comparado o grupo a quem era exigido que descobrissem as regras com o grupo a quem simplesmente eram ensinadas as normas, percebeu-se que os primeiros estavam mais aptos a escrever e "davam muito menos erros", revelou Ana Cristina Silva.

Com os alunos do quarto ano, a equipa de investigadores de ISPA tentou perceber se havia alguma forma de conseguir com um método simples que eles conseguissem melhorar a escrita, nomeadamente as suas composições.
Assim, a um dos grupos foi entregue várias grelhas com regras que as crianças tinham que seguir quando realizavam os trabalhos enquanto um outro grupo mantinha o ensino normal. No final, Ana Cristina Silva diz que os meninos que tinham o apoio das grelhas escreviam muito melhor e conseguiam, durante a revisão do trabalho, corrigir algumas das suas próprias falhas.
"Estes são métodos de ensino sem custos para as escolas e que iriam permitir que as crianças com mais dificuldade conseguissem ter melhores resultados, mas a verdade é que não são aplicados nas escolas", lamentou a doutorada em Psicologia da Educação.
A docente universitária criticou ainda alguns projetos do Ministério da Educação, como o aumento de alunos por sala de aula, que considera perigoso, uma vez que poderá agravar a qualidade do ensino dos meninos com mais dificuldades, já que "os professores passam a ter ainda mais dificuldade de os conseguir acompanhar".
Os projetos da investigadora são apresentados hoje no ISPA durante a conferência "É possível aprender a ler e a escrever com sucesso".